terça-feira, 29 de julho de 2014

Relato de parto... HUMANIZADO!

Demorei demais. Devia ter iniciado meu blogue com essa postagem. Porém, não seria "a pior mãe do planeta"... Por isso, aqui vai meu relato de parto (ou o que me lembro dele!).

Meu relato começa a partir do dia anterior ao trabalho de parto em si, pois encaro o TP desde a percepção da parturiente das contrações irregulares que "chamam" sua atenção para parto até o nascimento da criança. Por volta da 1h da manhã do dia 21 de abril desse ano, comecei a ter contrações que nunca tinha sentido durante a gestação. Eu e meu companheiro nos ligamos que era o início da fase de total mudança de nossas vidas.

Ligamos para meus pais, para a minha doula Rebeca, nos encontramos na nossa casa e fomos para a maternidade (Hospital Maternidade Maria Amélia Buarque de Hollanda), que é a referência em parto humanizado no serviço público de saúde. Não fui admitida, pois após um toque de dor inenarrável foi feito - estava com dois centímetros e o colo do útero completamente para atrás ainda. Depois de fazer uma cardiotocografia (exame que mede o batimento cardíaco do feto), voltei para casa, onde ficamos na expectativa do nascimento- a minha estadia antes da minha liberação merece uma postagem por si só para falar de uma parturiente que me chamou a atenção.

Passamos o dia comigo tendo contrações esparsadas. Um casal de amigos aproveitaram para me visitar e ficaram espantados com a nossa tranquilidade. Aliás, eu não tinha feito meu plano de parto e acabei fazendo com eles e explicando alguns pontos. Um deles faz medicina e está quase se formando o que foi bom para me explicar algumas coisas. O outro não tinha nem ideia de como o movimento feminista enveredou tanto para discutir e impedir a violência obstétrica que não sabia que um parto pode ter um plano só seu. Achava que todos são iguais e ponto final.

Após um dia inteiro de algumas delícias culinárias realizadas, e compartilhadas no facebook, pelo Matheus, o início de um filme que teve que ser interrompido e alguns exercícios na nossa bola verde de exercício, por volta das 1h da manhã (mais uma vez!), contrações muito regulares e um pequeno sangramento nos avisaram de que dessa vez a ida para a maternidade seria definitiva! A partir daqui minha memória não é lá muito confiável, mas vamos que vamos...

Dessa vez minha mãe deixou o carro com a gente! Fomos direto para o MMA e nos encontramos - mais uma vez - nós, meus pais e minha doula. No caminho para a maternidade teve companheiro avisando de contração - que eu já sabia que estava super regular -, caminhão de lixo no meio e muita contorção minha (parir dói!).

O MMA respeita a presença da doula no quarto de parto junto a parturiente e ao acompanhante - o que é maravilhoso! -, mediante assinatura de um documento descrevendo o que se pode ou não ser feito durante esse processo.

Mais uma vez, o famigerado toque foi necessário para a minha admissão. Mas esse não doeu, já tava tudo esquematizado: colo para frente, 4 centímetros de dilatação, bolsa íntegra. Mais uma vez a cardiotocografia. Tudo tranquilo... Eu tava louca para chegar logo no quarto e ficar pelada debaixo do chuveiro quente! E foi o que aconteceu... Uma explicação: o chuveiro quente é ótimo para a dor, mas acelera as contrações, então, já viu, né?!

Não foi como pensei, tinha que sair debaixo do chuveiro, mas ao mesmo tempo, o quarto era extremamente gelado - ar central (PQP!). Me sequei, pus um avental, sentei na cadeira tipo cavalinho dentro do banheiro com o chuveiro ligado para ficar mais quente. Nada confortável! Deixa eu me levantar e colocar um casaco para ir para a cama... Tentei andar, doia mais. Tentei ficar apoiada na cama, tava cansada demais para ficar em cima das pernas. Finalmente, sentei na cama com meu companheiro me aparando sentado por trás - e a bola de exercício apoiando ele -, nesse momento chega a médica que me pergunta se pode fazer o toque para eu saber a quantas andava a dilatação - pedir para fazer o toque é o correto, médicx que já vai enfiando os dedos tá errado (isso é violência obstétrica!). Deixei, já estava com 10 cm! E a bolsa íntegra...

Ela, de uma forma muito legal e fofa, disse: "Já tá tudo certo. Deixa ele vir, minha flor!" E eu : "Eu tô tentando!" (Nesse momento, eu, meu companheiro, minha doula e a equipe de enfermeiras obstetrizes, todo mundo que Paco fosse nascer em breve... Ledo engano!)

Fiz muita coisa desde que entrei naquele quarto... Nada me deixava confortável e a cada hora que passava mais eu entrava na partolândia... Apesar de alguns momentos de certo desespero (?!), teve um momento que fiquei de joelhos em cima da cama me apoiando na cabeceira totalmente em pé. Lá fiquei por horas, sentindo as contrações, fazendo força longa aos poucos, me concentrando na expulsão do Paco. Dali conseguimos que o pequeno se encaixasse mais, descesse mais, quisesse nascer mais... A enfermeira que me acompanhou no inicio a fim ficava monitorando o batimento cardíaco do Paco de hora em hora... Como ele tava superbem o que tinha que fazer é continuar a caminhada!

Mas a progressão foi pouca... E a bolsa íntegra. Por outro momento fiquei pensando alto: "Eu não sei mais o que faço para ele nascer..."

Engraçado que o corpo, não sei como, faz que com a gente ensaie um descanso meio as contrações e a ansiedade. Tive a impressão de quase dormir em alguns momentos em cima da cama, de joelho mesmo.

As contrações são outras coisas de outro mundo! Algumas vem super forte, quase insuportável e outras vem mais brandas, dando um pouco de conforto.

Muita massagem, muita dor, muita ansiedade depois, desci para tentar andar um pouco. Não deu, não dava, e o pior é que eu sabia que isso fazia bem, mas não conseguia andar. Por isso, sentei na cadeira cavalinho e lá fiquei. Finalmente! Conforto em meio as contrações!

Já no expulsivo - criança encaixada e contrações que praticamente te mandam fazer força -, comecei a perceber que algo tinha mudado. Sentia a cabeça do meu filho cada vez mais descida. Pedi para Rebeca me dizer o que estava acontecendo, ela tirou uma foto e me mostrou. Depois disso, foquei como nunca! "Agora vai!", pensei comigo. Resolvi cantarolar na minha cabeça "Feeling Good"...

A cada contração eu avaliava se fazia ou não força. Pois fazer força não é uma premissa para a contração. Você só faz força quando você quer fazer força, pois forçar a expulsão da criança sem o seu corpo pedir é ruim, faz mal sim! Só se faz força quando se deve/se quer e não quando x médicx manda/te obriga! Relatos e cenas que me deixam puta da vida é x médicx ou enfermeirx empurrando a barriga de uma parturiente para a criança nascer logo! Isso é violência obstétrica!

Quando teve essa mudança de cenário, a equipe voltou, pois tudo apontava para o nascimento. Linda cena, segundo Rebeca: eu sentada na cadeira, Rebeca de frente para mim, falando bem baixinho: "Falta pouco. Tá quase"; a equipe de 4 enfermeiras todas sentadas no chão esperando o Paco aparecer; e, Matheus logo atrás de mim, vendo tudo por um espelho para facilitar na hora que ele fosse aparar. Luz desligada... Silêncio... Eu chamava: "Vem Paco, vem meu filho... Aaahhh!!!" (E a bolsa íntegra)

Tem um momento muito doido que é logo antes da criança nascer mesmo, quando o corpo e as contrações param por um instante, meio que te deixam em paz, pois o quem vem é para dar cabo no processo. Me relataram que cheguei a tirar um cochilo no cavalinho! (Muitos médicxs nesse momento de descanso resolvem injetar ocitocina para a acelerar... Isso é violência obstétrica! Aliás, essa explicação foi dada por uma das enfermeiras da equipe que me acompanhou)

Pronto, nasceu! Nasceu aparado pelo pai, dentro da bolsa, me dando laceração de grau 1 (não sofri uma episiotomia desnecessária, que também é violência obstétrica!), todo duro/nada molenga, não chorou, me mijou as costas todas (sensação que sinto plenamente até hoje)...

Para mim, essa mijada de início de vida foi um aviso. Não tenho ideia de sobre o que! Mas aí eu seria a melhor mãe do planeta e não a pior se soubesse...

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Sobre postagens e projetos

Então, mais uma vez, mais uma semana, mais uma postagem sem ser feita. Depois, mais uma semana se passou e nada...

No total de vida desse blog, já se foram três semanas sem postar. A primeira vez que deixei de postar, foi a vez em que voltei a fazer algo que me define: voltei a militância organizada dentro do PSTU. Uma parte de meu cotidiano que tinha deixado em pausa - e ainda não consegui retomar na medida em que gostaria, mas isso é processo - por conta do início de vida como mãe. Início de vida que me motivou a escrever e a criar esse blog - como tantxs outrxs.

E, por isso, essa postagem de agora é necessária para que eu não deixe de lado algo que já está me definindo. Desde que entrei no último trimestre da gravidez, deixei muita coisa de lado, por vários motivos: a rotina da casa junto do dia-a-dia do trabalho, cansaço do peso da gravidez, organização para a chegada do Paco, etc etc etc... Tudo vai acumulando e a licença-maternidade não chega, porque você quer aproveitar cada momento desse escasso tempo com x filhx nascidx, antes de voltar a trabalhar. Muita coisa ao mesmo tempo, sem falar na preparação psicológica que se tem para uma mudança eteeerna em sua vida - isso é muito tempo.

Por essas e outras que não dá para deixar de postar. Tem que se dar um compromisso, quase uma obrigação mesmo - uma obrigação d"a pior mãe do planeta" para com seu outro filho. Não dá para postar só quando surgir assunto, tem-se que criar assunto! Assim como no partido, eu me comprometi seriamente com esse projeto: uma postagem por semana. Compromisso feito, compromisso cumprido(!?). Pode-se reavaliar, assim como no partido, as melhoras formas de se cumprir com ele, mas deve ser cumprido e não fugir disso.

Estou fazendo essa comparação, pois a militância se reflete em vários lugares, momentos e formas. Encaro isso aqui como uma forma de desabafo militante, como se ser mãe fosse uma forma de militância. É mais uma faceta de como se dá seu posicionamento no mundo, na sociedade, e no que você acredita para romper - ou dar continuidade. No meu caso, esse projeto é um desabafo permeado de vontade politica/militante, pois, sinceramente, tem muita coisa com a qual eu discordo sobre a criação de crianças. E isso aqui é um compromisso com meu projeto de me expressar e falar sobre o que penso!

Falar o que se pensa, entre pessoas que possuem blogues e são blogueiras, não é uma novidade, mas não deixa de ser um compromisso que se faz. É necessário certa seriedade.

A manutenção e continuidade - e também a ruptura - de um projeto tem muito a ver com a forma com a qual você o encara e o realiza. Projetos têm uma finalidade (ou finalidades), ela pode ser utópica, um pouco fora da realidade e até mesmo ilusória, porém não deixa de ser uma finalidade. E, por isso, são importantes, precisam de comprometimento e algumas definições de como serem feitos. (Muito parecido quando se milita!!!)

Escrever é libertador! Tal como militar... No entanto, escrever de forma autoral (acho que é essa a palavra) é uma atividade em que você se solta e caga para o que os outros pensam. Tem a ver com você - isso, também, quando se escreve sem pudores de se expressar (pois quem escreve o que quer, lê o que não quer) -, principalmente quando uma das finalidades a qual se propõe é fazer x outrx refletir (!).

Minhas angústias de "pior mãe do planeta" são expressadas dessa forma escrevendo/militando/expressando. Sem falar que pessoas leem. Podem ser poucas, podem ser muitas, podem ser próximas, podem ser desconhecidas. Elas leem! É mais uma faceta desse compromisso, desse pequeno projeto: escrever para ler. E quanto mais se escreve, mais se cria assunto! Temas variados vão surgindo e você vai querer falar/escrever sobre eles.

(Nesse momento, meu companheiro me interrompe pela terceira vez... Isso é para todo mundo ter uma ideia de como é necessário levar o seu pequeno projeto a sério. Pois em breve a criança acorda e eu não acabei de escrever e a prioridade é amamentar!)

(E, agora, a quarta... Mas "tudo bem", ele tá lá dando tapinha na bunda do Paco para ele dormir mais um pouco)

Agora, esse é mais um projeto que tenho e é mais um compromisso que possuo... E tudo tem que ser prioridade!

Nos vemos semana que vem!(?)

P.S.: Alguém tem sugestão de melhor dia da semana para postagem?

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Um chá de camomila e um pote com amendoim

Essa postagem é uma postagem reflexiva. Reflete o que venho pensando e o como tem sido meus dias atualmente.

Acabei de me deparar com o seguinte fato: tenho que aprender a pensar com outra pessoa na minha cabeça. É difícil! Meus pensamentos não seguem uma linha coerente, me perco facilmente nas minhas reflexões, isso porque penso no Paco constantemente. Inclusive, nas poucas vezes que estive longe dele.

É um mundo novo nas costas. E é um mundo pesado, devo confessar. Não é fácil se deparar com o fato de que alguém depende de você. E, por mais que se ache que é até uma certa idade muito longínqua - tipo até uns 18/20 anos de idade, no mínimo -, me vejo agora vendo que a dependência de Paco pode ser que vá mais longe. Tipo... Para sempre!

Digo isso principalmente por ele existir e depender demais de meus pais em muita coisa ainda para que eu possa existir junto dele. E acho que vai ser para sempre também...

Nesse momento, ele está no colo do pai e olhando para mim... Isso é ao mesmo tempo maravilhoso e amedrontador! E diz muita coisa sobre o que vem pela frente. Muita coisa vem pela frente, é a única certeza que se dá para ter.

Hoje foi a primeira vez que me deparei com o costume. O costume de tê-lo por perto todo dia, toda hora. De ter que pensar o cotidiano para e com ele. Sem falar que ainda meus dias dependem muito mais dele do que ele do meu cotidiano. Dependo de seu humor, suas sonecas, suas mamadas, banho, etc, etc e etc... Meu dia é uma dependência e a vida dele depende de mim!

Seria, então, uma co-dependência?! Não sei, não sei mesmo... Até quando é assim? Acho que é para sempre... Com menos intensidade talvez, quem sabe. (Mas para sempre.)

O mais louco disso é que eu e meu companheiro também estamos no tempo de nos acostumarmos um com o outro. Bom, para quem não sabe, Matheus e eu nos conhecemos em junho do ano passado. Essa semana faremos um ano de "namoro". Fiquei grávida semana seguinte de oficializarmos nosso relacionamento. Na semana após a comemoração do nosso mês juntos nos deparamos com a novidade da gravidez.

Tudo muito corrido, rápido e sem intervalos. E estamos nessa até hoje. Nem perto de isso melhorar. E impossível disso ser diferente.

Nosso cotidiano não é nada como o "Cotidiano" de Chico Buarque. Não fazemos nada tudo igual, nem sempre acordamos com um sorriso, apesar de sempre pensarmos em cuidar um do outro - mesmo que às vezes é bem pouquinho - e, até então, não calamos a boca com nada (aliás, isso é meio que proibido). Sinceramente, isso também é cansativo, assim como o cotidiano rígido também pode ser.

A única coisa certa no meu dia é o horário de ir dormir, o ritual do sono que tantas mães, especialistas e outros falam. Não funciona só para o Paco, funciona para mim também. Para o Matheus, inclusive. Ir dormir... Ir dormir é um ritual sagrado... Isso não dá para não ter no não-cotidiano! Senão, ninguém aguenta! (Ninguém mesmo: nem eu, nem Paco, nem Matheus.)

Engraçado esse negócio de sono... Isso é tão sério, mas tão sério, que quando essa pequena regularidade é interrompida o dia seguinte é horrível! Ai! Esses não-cotidianos necessitam de boas noites de sonos (boas noites de sono foi exagero, eu sei, ninguém que tem recém-nascido em casa tem boa noite de sono... mas uma noite que você sabe como vai começar e como vai terminar é um alívio sem igual!)