quarta-feira, 29 de julho de 2015

Sobre sentir conforto em uma mulher estranha

Hoje vim no metrô pensando coisas diversas e me lembrei do momento quando estava fechando minha conta num banco qualquer da vida e fui atendida por uma mulher muito simpática. Já estava com alguns meses adiantado na gravidez, acredito que entre o 6o e o 7o mês. Me lembro desse dia com certo carinho, não porque estava fechando mais uma conta que me dava dor de cabeça, mas pela forma como aquela mulher conversou comigo.

Naqueles momentos de silêncio quando estamos resolvendo alguma coisa, sempre falta um tópico de conversa com estranhos. No entanto, quando se está grávida, você é um tópico de conversa ambulante. Não precisa-se falar do tempo e sim de quantos meses você já está, se esta ansiosa, se vai fazer parto normal ou cesárea, quantos quilos tem a criança, comprimento, se é menina ou menino, essas coisas diversas e perfeitas para fazer uma conversinha rápida. Nunca me importei! Achava bom inclusive!

Conversando com ela fiquei sabendo que também já esteve grávida, que na época tinha um filho pequeno. Falou da gravidez brevemente mas com um sorriso no rosto - não sei se para mostrar uma simpatia obrigatório, gosto de acreditar que estava tendo boas lembranças da época. Me perguntou se estava tudo bem e eu disse que sim, mas que estava um pouco ansiosa com o parto. (Não estava ansiosa com a dor nem nada disso. A ansiedade vinha do fato de eu ter recentemente largado meu médico fofo cesarista que não acreditava na dor do parto, para ser acompanhada e parir no SUS. Deu tudo certo.)

Imediatamente, ela se prontificou em dizer, afirmar e confirmar, com um sorriso no rosto e uma calma muito boa na forma de falar e na voz "não fique pensando nisso não. Vai dar tudo certo. Você vai ver. Deixe chegar a hora de parir e você vai ver que vai ficar tudo bem".

Gente, essas palavras vieram como um conforto incrível! Aquela mulher estranha a mim, que nunca vi na vida, que não me conhecia em nada e não sabia o motivo da minha real ansiedade, foi incrível! Acredito que ela não tenha a menor noção disso, mas eu saí tão bem daquele banco e tão agradecida a ela. Uma simples frase, uma afirmação tão real para ela, acabou se tornando uma possível realidade para mim.

Daí, eu vim pensando no metrô, como o poder de solidariedade entre as mulheres é algo poderoso! Vim pensando que empoderar uma mulher por dia pode ser perceber uma questão/problema/angústia que a aflige e dizer que vai ficar tudo bem. Que é possível passar por tudo e ficar bem. Tudo bem (aliás, deve-se!) ficar angustiada, com raiva, com medo, receosa e chorar, porém, lembre-se que vai ficar tudo bem. Olha para mim, tente enxergar conforto no que falo, pois vai ficar tudo bem. Vamos pensar juntas, vamos discutir juntas, vamos ficar juntas. Assim, vamos fazer tudo ficar bem.

Não pensem que estou cheia de pensamentos polianescos ou que estou vivendo num mundo cor de rosa. Eu sei que as mulheres sofrem todos os dias. Principalmente as mulheres negras e pobres! Todo dia sofremos com a opressão. Todos os dias leio casos de violência contra a mulher. Todo dia temo por mim e pelas minhas companheiras/irmãs. Sinto dor quando algo acontece com elas. E, exatamente por isso, eu acredito no poder da sororidade. Eu acredito que se eu olhar para uma mulher estranha a mim e por acaso conversar com ela e oferecer por segundos uma palavra de carinho e/ou um olhar de compaixão e compreensão, ela vai se sentir melhor. Ela não vai se sentir sozinha, pelo menos naquele momento.

Não é um olhar ou uma palavra condescendentes! Por favor, esse não! Esse é a reprodução de um paternalismo escroto que vitimiza e julga a mulher, além de nos coloca num lugar de inferioridade e submissão!

Estou falando de empatia... Compreensão... Nos colocar no lugar da outra, mesmo que por alguns segundos e perceber de onde vem a angústia! Nos reconhecer nesta angústia! E nos dispormos a conversar e não julgar essa angústia.

Por isso, eu acredito que é mais possível empoderar uma mulher por dia do que imaginamos. Não estou dizendo que é fácil ou simples, mas que é possível.

Não há nada mais poderoso do que ver um grupo de mulheres, discutindo seu futuro. Pensando formas de dar por fim sua opressão. Somando e abraçando umas às outras! É foda de maravilhoso ver mulheres dialogando, se despindo e aos poucos se desfazendo de preconceitos, mitos e valores escusos desse capitalismo de merda!

E nesse momento estou cheia de bom humor, pensando nas possibilidades infinitas por pensar que não estou sozinha e que não quero estar sozinha!

#MulheresDoMundoUnivos #EmpodereUmaMulherPorDia

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Hábito familiar? Não. Hábito do Capital em te fuder diariamente...

Meus dias não têm sido muito bons. Troquei de trabalho. Caí de paraquedas num outro lugar. Voltei a trabalhar 40 horas semanais, que na verdade são 45 horas e que na verdade são 55 horas contando o deslocamento diário. 11 horas por dia voltadas única e exclusivamente para o ato de trabalhar, me manter empregada, recebendo um trabalho.

Duas semanas, indo completar a terceira em breve. Dias estressantes, quase que insuportáveis. Trânsito sem igual, porque o RJ é isso, sinônimo de trânsito. Prefeito Dudu taí pra ferrar mais a vida de mães e pais, que só convivem com seus filhos na hora de jantar e dormir. Não é a toa que cada vez mais me deparo com mulheres e homens que tentam mudar um pouco isso, mudando de vida mesmo.

Daí, nessas três semanas, me deparo constantemente com uma porra de uma notícia me dizendo que meu filho tem que dormir às 20h. Tem que dormir pelo menos 11 horas por noite, senão seu desenvolvimento fica comprometido. Aí eu me pergunto: o desenvolvimento do meu filho não vai ficar comprometido se ele só conviver comigo 2 ou 3 horas por dia? O desenvolvimento dele não vai ficar comprometido se eu não deixar de atendê-lo durante seus despertares noturnos? O desenvolvimento dele já não está comprometido pelo fato de eu ter começado a trabalhar em seus 4 meses de vida? Ter feito uma introdução alimentar antes dos 6 meses por não produzir leite em quantidade?

Engraçado que na porra da notícia qual o vilão contra o sono cedo? Os hábitos familiares! Caralho! (só dizendo assim)

Os hábitos? Os hábitos familiares? Não é o fato de eu ter que ficar fora de casa das 7h30 às 18h30, chegar na casa dos meus pais, pegar a criança e só chegar em casa de verdade às 20h? É o meu hábito familiar o real problema...

Que porra de artigo é esse? Você não chuta cachorro morto não, cara! É desleal!

Hábito familiar é o cacete! O vilão dessa merda é essa sociedade capitalista, enlouquecida que finge que se importa comigo e com meu filho, que me faz passar a vida útil do meu dia em função de um emprego! Me fazendo mandar um grande foda-se pro meu filho. Essa licença maternidade ridícula.... Pelamadrugada! É cruel, perverso e cretino!

E aí me vem gente falar que é só querer... Querer não é poder! A gente não pode largar o trampo pra ficar com a cria, a gente não pode pedir prx chefx pra sair mais cedo pra poder curtir uma ou duas horinhas a mais x filhx, a gente não pode sair correndo pelas ruas do RJ pra fugir do trânsito (quase ninguém mora tão perto assim do trabalho)... Na real, a gente pode muito pouco u quase nada.

Mas o que a gente não pode mesmo é se deixar levar por um artigo que não mede as palavras e a realidade da nossa vida urbana.

Paro por aqui que a dor de cabeça já me chegou no útero!