quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Desabafo de mãe militante: uma crise permanente (não é sobre filhxs)

Já faz um bom tempo que não escrevo aqui. Um ano e 5 meses - minha última postagem foi em agosto de 2015.

Estou passando por uma longa crise. Uma crise profunda sobre minha vida militante que interfere diretamente na minha maternagem. Num primeiro momento, após o nascimento do Paco, tentei pertencer a alguma organização para conseguir exercer minha militância da forma mais familiar que conhecia. Depois, empolgada com a volta ao espaço político, tentei junto a outras mães, construir um espaço seguro, acolhedor e de referência para as mães que militam, que querem estar nos espaços públicos e políticos com suas/seus filhas/filhos. Tentei construir com mães que não querem abrir mão de si. Por que militância é isso, uma parte do seu ser.

Não deu pra mim. Não sou afeita à autopromoção (seja ela individual ou coletiva). Também não me cabe um papel autoproclamatório, sendo o que são verdades absolutas, que não podem sofrer críticas nem serem questionadas. Autocrítica está aí para ser feita - balanço, avaliação, reflexão sobre suas próprias ações.

Sou afeita à construção de verdade. Sou afeita à superação com o objetivo de (RE)CONSTRUIR. 

Percebo mulheres muito próximas de mim que não podem se perder na maternidade compulsória. Que não podem contar com a autopromoção alheia para se sentirem bem. Que precisam de apoio para sair de casa, pegar suas/seus filhas/filhos no colo e contar com uma companheira, ou companheiras, para isso. Uma companheira que entenda exatamente o que é o sentimento de fazer parte de algo maior que sua família, sua/seu filha/filho, que se pretende contribuir para a mudança social, para a transformação do quadro político em que nos encontramos.

Não quero construir um movimento, coletivo ou organização para sair nos jornais, ser reconhecido pelo "grande público" ou pela vanguarda creditada. Eu quero construir um espaço real que gere incômodo pelas suas demandas específicas. Demandas que se não forem sanadas gerarão um problema. Um problema social mesmo!

(Escrevo no singular, pois é uma vontade minha. Reconheci essas vontades em outras manas. Mas não posso falar exatamente por elas. Posso somente falar por mim.)

Mulheres que se tornaram mães querem ter o direito à maternidade plena! Mesmo que atualmente, no Brasil, ela seja compulsória.

Quem pariu Matheus que o embale? Na realidade, nos enfiam Matheus goela abaixo e aí se surpreendem quando queremos mostrar ao Matheus um mundo inteiro de possibilidades e não vamos nos trancar dentro de casa. Se surpreendem quando percebem que temos voz ativa e queremos que Matheus reconheça essa voz não só dentro de casa, mas nas ruas. E que a partir desse reconhecimento, Matheus possa perceber que uma mulher pode ser muito mais do que uma mãe que o embalou por tê-lo parido.

É momento de recomeçar, RECONSTRUIR(-SE). 

Minha crise passou? Pouco interessa nesse momento. Até mesmo a mim. Pois a vida é assim mesmo: idas e vindas na reflexão e na prática para nos reconhecermos. E se não nos reconhecermos em algo, para que continuar e se torturar? Também não sou afeita à autoflagelação.

Quero retornar para o dia que era feliz antes de ser mãe, mas agora com meu filho, pois essa é minha condição. Quero me reconhecer e saber que tenho companheiras que estão comigo e que me darão a mão necessária para sair de casa com meu filho no colo. Manas que estão abertas a RECONSTRUÇÃO e a SUPERAÇÃO.

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