sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Gênero: um binômio difícil

Outro dia (recentemente até), estava conversando com duas amigas do trabalho. Aliás, uma conversa bem legal, sem muitas polêmicas. São duas pessoas muito abertas e progressistas! Ainda bem que tenho o costume de me rodear por pessoas assim, meio que naturalmente. (Pessoas abertas costumam encontrar seus pares meio que sem querer!)

Enfim, estava conversando sobre a preocupação do mundo (pessoas e sociedade) de que a criança desde seu nascimento tenha um gênero BEM definido. A partir de coisas que muitas vezes achamos ser simples, mas que na verdade tem um papel fundamental na primeira infância: roupas, brincadeiras, atividades, programas infantis, comida, linguagem, afeto, religião. (Listei algumas, sabendo que há mais do que essas)

Expressei uma preocupação muito grande para mim. Cada vez mais tenho me deparado com uma sensação, uma percepção, que muitos não vão concordar, mas que com a qual eu tento trabalhar na minha função de mãe. Crianças não tem gênero! Crianças tem genitais que em algum momento irão lhe dá prazer individual e íntimo e que se desenvolverá, num processo que dever ser respeitado e não apressado ou muito menos oprimido, para um prazer com outras pessoas (ou não, isso também tem que ser levado em conta, mas uma coisa de cada vez).

Eu repito: crianças não tem gênero. O que define o gênero é a sociedade externa - os pais, as mães, os avós, os tios e tias, o vizinho, xs professorxs, a mídia, o mercado. Todo mundo, antes das crianças crescerem e se estabelecerem como homens e mulheres. E tem que ser como homem ou mulher, porque qualquer coisa que fuja disso também vai ser execrado, taxado, julgado, e tudo o mais, MENOS respeitado.

Isso, na maioria dos casos (por favor, não me venham com exceções), é opressor.

Definir um gênero é muito pesado, é muito complicado, é muito complexo. Imputar isso a uma criança é muito sério. A criança é criança!

Meu maior medo é fazer com que meu filho se sinta obrigado a ser alguém. Querendo ou não! A obrigação por si só acaba, termina, devasta a experiência maravilhosa de se descobrir. Além disso, eu realmente acredito que gênero está cada vez mais relacionado ao seu papel sexual na sociedade: submisso ou ativo. Garanhão ou piranha. Respeitoso ou santa. Preso a um rótulo ou preso a um rótulo?

Pensando esse processo pela qual a criança passa, eu fico com muito medo de impor algo ao meu filho. E nessa fase da primeira infância é o momento que mais temos controle sobre a criança. Eu controlo muita coisa: choros de reclamação, a comida, a bebida, o banho, o que assiste, o peso, a altura, as vacinas, as doenças (ou tudo que faço para que não tenha nada). Mas isso, eu não quero controlar!

Faço esforço, converso com o pai, converso com minhas amigas-mães, com minhas amigas que não são mães. E chego a conclusão que definir um gênero é mais difícil do que não definir nada.

Reconheço que vivo numa sociedade que depende muito desse binômio. Tenho medo também de criar meu filho numa bolha. Mas simplesmente é algo que não é fácil pra mim.

Pra mim, Paco será um menino se ELE quiser, será uma menina se ELA quiser e será agênero se quiser. Eu realmente acredito que isso não cabe a mim, não cabe a você, não cabe ao vizinho, não cabe a ninguém.

#ProntoFalei! (UFA!)

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